Desde que cheguei ela chegou, um anjo – Bell Hooks, “uma mulher de língua afiada, que falava o que vinha à cabeça, que não tinha medo de erguer a voz” (valeu meninas amei de amor a dica inspirada numa manhã chuvosa na amada Itacaré), digo anjo porque ela escreve sobre eles no último capítulo, e diz que descobriu muito dos seus anjos nos seus escritores preferidos. E ela já é das que moram no coração!



O livro encontra-se todo grifado, e rabiscado e conversado com pensamentos, compreensões e dúvidas e questões... ai! Acho que o título do prefácio da Silvane Silva capta a essência, “A prática do amor como potência para a construção de uma nova sociedade” desse desafio de “colocarmos o amor na centralidade da vida”, como bem coloca Silvane, Bell faz a “defesa da prática transformadora do amor, que manda embora o medo e liberta nossa alma”, suas palavras vieram como bálsamo, bússola, ainda mais nesses tempos... e sim, sempre um bom livro é um trabalho sobre si mesmo e isso acho acolhe o outro.
Tem esse trecho pra lá de belo, “Se todas as políticas públicas fossem criadas no espírito do amor, não teríamos que nos preocupar com o desemprego, as pessoas em situação de rua, o fracasso de escolas em ensinar às crianças ou os vícios.
Se uma ética amorosa influenciasse todas as políticas públicas nas metrópoles e nas cidades, os indivíduos convergiriam e planejariam programas voltados ao bem de todos.”
Mas pra isso é preciso aprender o amor, o que lendo o livro percebemos não é fácil, a abertura para trilhar esse caminho é uma construção cotidiana, como ponto de partida procura uma definição dentro de tantas concepções equivocadas, entender o amor “como a vontade de nutrir o nosso crescimento espiritual e o de outra pessoa” (um dia ouvi mais ou menos isso de um mestre e sua arte) ...
É preciso acolher e confrontar as próprias feridas do desamor, afinal, muito da problemática começa na infância, relacionamentos... e ele, o amor, encontra-se longe de uma sociedade pautada pelo consumismo e a ganância. Ela enfatiza uma percepção de Jung que me fez pensar bocados há muito tempo sobre o amor e o poder, “de que se o desejo de poder predomina, o amor estará ausente” e comenta, “Quando o amor está presente, o desejo de dominar e exercer poder não pode ser a ordem do dia. Todos os grandes movimentos sociais por liberdade e justiça em nossa sociedade têm promovido uma ética amorosa”, acrescento os movimentos pela paz...
Parece o amor encontra-se mais próximo a uma vida simples, comunal... O amor é escolha, ação... E que “para amar verdadeiramente, devemos aprender a misturar vários ingredientes – cuidado, afeição, reconhecimento, respeito, compromisso e confiança, assim como, honestidade e comunicação aberta.”
Ela inicia o livro falando de uma frase que se encontra na sua cozinha, “A busca pelo amor continua, mesmo diante das improbabilidades” - “(...) paro diante desse lembrete de que todos ansiamos por amor – todos o buscamos” (Bell Hooks)